Início da tarde de segunda-feira. Dia quente, de correria para pagar contas e resolver outros compromissos. Sempre foi comum em meus devaneios de rotina imaginar que na imensidão dessa ciranda, no mesmo breve instante em que sorrio e celebro a vida, neste mundo vasto mundo há pessoas nascendo, morrendo, chorando, sofrendo, atormentadas, atormentando...Na grande maioria das vezes, personagens desconhecidos que só deixam o anonimato quando se tornam protagonistas de dramas intensos e tristes como o do seqüestro em Santo André, que domina o noticiário nacional deste segunda-feira passada e teve um final trágico na sexta-feira.
No ofício de jornalista já vi muitas vezes o egoísmo e ódio mascarados de amor tresloucado vitimarem mulheres, fisicamente o lado mais frágil da relação. Na crueza do trabalho jornalístico, não raras vezes vi colegas se emocionarem até às lágrimas. Mas o que me deixa mais assustada é saber que essa loucura passional é comum e freqüente. Já soube de amigas de minha filha que apanharam – e ainda apanham - de namorados. Outras são ameaçadas por ex-namorados e vivem sob o domínio do medo, sem confidenciar nada aos pais. Só depois da tragédia consumada é que iremos saber que ela esteve tão perto de nós.
Eloá, Lindemberg e Nayara são os personagens desta história de (des) amor. Eloá era só uma menina, como tantas e tantas com quem cruzo no dia a dia, uniformizadas, indo para o colégio. Como mãe e avó é impossível não sentir um pouco da violência que a mãe desta menina está sentindo. É uma dor inimaginável, íntima e pessoal. Mas certamente, milhões de mulheres – mães e meninas – compartilham dela. Sinto dentro de mim tristeza e um gosto de fel.